Ministério Infantil

Atualmente, ao nos lembrarmos do momento em que Jesus orientou seus discípulos a serem como crianças, assumimos certas personas que nos tornam infantilescos e imaturos, que nos debilitam enquanto cristãos, que nos desabilitam a cuidar de outros cristãos, que nos confundem em alguns limites de ordem de culto e até na ordem de nossa vida, na medida em que nos vemos como crianças em aspectos em que devemos nos ver como adultos. Afinal compreendemos equivocadamente esta passagem, assim como algumas outras. Como sermos como crianças, obedecendo a orientação de Jesus Cristo, sem antes sermos atingidos pela infantilidade incoerente e perigosa que atingiu a igreja brasileira? Assim como esta passagem pode, se compreendida erroneamente, retardar o desenvolvimento sadio da igreja no mundo, outros apelos usados por mensagens motivacionais que andam substituindo os sermões expositivos nas igrejas também nos oferecem alívio ao nosso medo de assumirmos responsabilidades no mundo não apenas enquanto cristãos, mas enquanto homens e mulheres ativos no mundo e na sociedade. A ação de Deus nos tratando eternamente como filhos, o uso da expressão “Aba Pai”, noções equivocadas sobre liberdade em Deus, são pervertidas propositalmente e/ou inconscientemente pelo nosso coração inclinado e pelas ações de pessoas que, muitas vezes por falta de estudo das Escrituras, promovem a imagem de um Deus que é um pai não apenas intensamente tolerante e irreverente, mas também que entrega tudo na mão de seus filhos. Também um pai que permanece apresentando e dando dicas de todas as possibilidades possíveis de ação através de mensagens ou visões, sem ensinar os seus filhos a refletirem sobre suas ações e sem incentivá-los a compreender as relações de causa e consequência que envolvem seus atos perante os demais seres humanos. Muitas vezes, compreendendo que algumas ovelhas de nossas igrejas são como crianças na fé, somos constrangidos e conduzidos a tratá-los como crianças psicologicamente, deixando de ver que embora possam ser crianças na fé, ou seja pessoas que precisam ainda aprender

questões de fé, ainda sim são adultos, que mentem como adultos, que difamam como adultos, que precisam de didáticas para adultos, que precisam de aconselhamentos como adultos, que possuem necessidades de adultos, que pecam como adultos. Tudo isso é desconsiderado por igrejas e por

lideranças que tratam suas ovelhas como crianças, levando a suas igrejas a ficar insustentáveis para aquelas pessoas que possuem determinada idade avançada e que possuem sua maturidade espiritual correspondente a esta idade, enxergando certas igrejas como “igrejas para jovens”. Todos

precisamos amadurecer, mas alguns de nós se sentiriam extremamente incomodados em uma igreja cheia de cristãos imaturos e que desejam mais as sensações do que as reflexões. Como já disse Tiago Santos (2016), a maturidade é algo que foi exigido e nem sempre correspondido inclusive

pelos personagens bíblicos:

As Escrituras nos ensinam que devemos honrar às cãs – os cabelos brancos – porque,

normalmente estão associadas à experiência e à sabedoria, mas é preciso reconhecer que nem sempre isso é uma realidade. Abraão já era homem velho quando, por medo de homens,

mentiu a respeito de sua esposa – duas vezes! Ló já era homem velho quando coabitou com

suas duas filhas e Noé era bem idoso quando embebedou-se na frente de seus filhos.

(SANTOS, 2016)

No momento em que discipulamos os membros de nossas igrejas, não os ensinamos a assumir suas ações de forma responsável, os acostumando a irem ao culto público apenas se o culto for plenamente do seu agrado; criamos uma cultura de visitas nos lares em que os líderes passam a implorar inúmeras vezes para que os membros retornem ao convívio com a igreja, persistimos em

adaptar tudo e até a criar novidades para que a igreja se torne mais palatável aos “consumidores”.

Aos bebês é feita a papinha. Uma papinha indigesta e que conduz a desnutrição espiritual, intelectual e moral. Nossos cristãos não amadurecem. As músicas que cantamos nos cultos não possuem letras tão complexas mais, abrindo espaço para canções constituídas de duas ou três frases repetitivas que possuem não pouca semelhança com a simplicidade das músicas e cantigas infantis, pois a igrejas não tem mais paciência e nem desejo para cantar e meditar em longas canções ou letras muito complexas. “Atirei o pau no gato” tem um conteúdo mais amplo para reflexão do que muitas das nossas canções atuais. O que importa hoje é o sentir, é o prazer. Isso me lembra quando estudei sobre as fases do desenvolvimento infantil, descritas por Freud, que tratavam sobre o princípio do prazer, que é presente em todas as crianças e intensificado por um forte narcisismo infantil e primário. Este é o retrato da igreja atual em vários aspectos. Temos ovelhas procurando seu próprio prazer apenas e nele baseando sua adoração (se é que podemos chamar de adoração, pois não existe adoração acompanhada de narcisismo), temos narcisistas que precisam ser atendidos em suas vontades e que nunca querem ser frustrados. Temos crentes que precisam ser arrastados para a igreja, assim como uma criança que é conduzida a força pelos pais até a escola, sem se dar

conta do quanto aquilo é essencial a seu desenvolvimento. Estes são os cristãos que criamos. Estes são os cristãos que somos. Por isso carecemos de compreender de forma adequada as Escrituras que lemos e que nos são pregadas. Já dizia Tim Challies (2015), ao citar um trecho da carta de

Paulo a Timóteo:

Quando Paulo escreveu a Timóteo, ele fala sobre a natureza e propósito da Bíblia: Toda a

Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a

educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado

para toda boa obra (2 Timóteo 3.16-17). A palavra perfeito está relacionada à maturidade.

Paulo diz que Timóteo, e por extensão eu e você, somos incompletos, inacabados e imaturos.

A Bíblia é o meio que Deus usa para nos finalizar e completar, trazendo-nos à maturidade

(CHALLIES, 2015).

Ao mencionar que deveríamos ser como crianças, Jesus se referia à simplicidade das crianças, à capacidade de ser conduzida sem rodeios pelos seus mestres, à humildade infantil que envolve sua relação com o mundo e com as demais pessoas ao seu redor. Era um alerta contra a hipocrisia e

aspereza de coração que adquirimos quando ficamos mais velhos. Portanto, isso não significa que devamos deixar a imaturidade atingir as áreas de nossa vida que já devíamos ter amadurecido e que deveríamos ter um olhar expressamente adulto. A paternidade divina para conosco também não

deve servir como desculpa para empurrarmos nossas responsabilidades para Deus, pois um pai cuida de seus filhos enquanto criança, da melhor forma possível, oferecendo algumas coisas em mãos quando a criança ainda não possui capacidade para pegar por conta própria, mas o objetivo de todos os pais deverá ser que seus filhos alcancem a maturidade e a independência necessária para que se tornem sujeitos autônomos e autores de suas próprias ações, e assim trabalhar, se relacionar, assumir as diretrizes de seu comportamento e de suas necessidades. Deus, nosso Pai, quer nos dar

maturidade. E nós, enquanto líderes ou irmãos em Cristo, devemos incentivar e colaborar para que nossos irmãos cresçam em todos os sentidos. Ao discipular alguém, não o trate como criança, pois talvez isso seja mais uma pedra de tropeço do que uma ajuda. O escândalo faz uma igreja de cristãos imaturos de “gato e sapato”. Cresçamos todos juntos!

Escrito por: Jefferson Roberto de Carvalho Santos